Resistência e luta: 33 anos de amor e raiva

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Cheguei aos 33, parece que foi ontem que eu decidi sair por aí e ver o que a vida me reservava.

Desde o post sobre os 30 anos eu ainda continuo na Europa. Os últimos três anos foram bem intensos. Casei (pasmem), decidi ficar na Inglaterra, me envolvi com mais ativismo, fui à Palestina, aprendi inglês, divorciei e tenho viajado ao redor do mundo compartilhando com outras pessoas o que é tão importante pra mim: libertação animal e humana. Tenho me sentido honrada e feliz por poder ser voz do que eu acredito, por poder ser voz diante de injustiças e fazer com que mais pessoas percebam e relacionem essas injustiças com suas vidas e acho que isso é o que tem sido mais importante pra mim nessa jornada.

Outro dia eu li um texto da minha amada mana Sandra Guimarães do PapaCapim falando sobre desigualdade social e o “vamos amar a todos”.

Eu sempre fui do tipo de pessoa que procura entender as origens dos sentimentos das pessoas. Porque um opressor oprimi, porque pessoas reagem de determinada forma em certas atitudes, sempre tentei olhar para elas com amor e tentar transformar a raiva que sempre estava presente, mas desde que voltei da Palestina algo em mim mudou, parei de ser o grupo de “apoio da mudança” e passei a me manisfestar em situações de opressão.

A Palestina me fez perceber que em situações de opressão é nosso dever manifestarnos. Me fez entender que mesmo diante de tamanha opressão calar-se nunca foi uma escolha, medo não é uma opção e que mesmo com medo é preciso seguir, lutar.

Outro dia no Passeio de Gracia em Barcelona me vi me posicionando diante de uma situação de racismo: um homem branco chamava um refugiado negro de “negro de merda” eu estava saindo do metro, meu coração explodiu e eu fui – sem nem ver como, sem nem esperar coragem – direto naquele homem branco e me posicionei na frente dele e comecei a falar, mas falar muito. Me vi sozinha, defendendo um homem contra outro homem, eu, mulher a única diante daquela multidão que se posicionou diante daquele absurdo. No fim, quando dei as costas e fui embora, depois de dizer que ele deveria ter vergonha e voltar ela para o país dele, ele foi embora também. E eu chorei, chorei tanto, não pelo racista em si, mas pelo racismo em geral, mas senti tanto orgulho por não ter me calado. Outro dia foi no ônibus uma menina sendo completamente acossada por dois homens, que supostamente ela conhecia,  me levantei e sentei ao lado dela e perguntei se ela estava bem, eles começaram a gritar comigo, eu… eu ignorei bati um mini bate-boca e segui do lado dela porque juntas somos mais fortes.

Percebi que meus 33 anos me trouxe maturidade, me trouxe firmeza na luta, me trouxe coragem para me levantar e lutar na linha de frente dessa guerra. Me trouxe paz, pois minha alma se sente leve.
Como disse Sandra em seu maravilhoso texto: “minha raiva não vem de uma suposta falta de evolução espiritual ou estrátegica. Ela vem do amor, amor pelo povo, tão sofrido. Pelos animais, assassinados aos bilhões todo ano. Amor pela natureza. Amor pela justiça”. E como completa meu amigo Baha: ” legalidade é uma questão de poder, não de justiça”.

Aos 33 anos percebi que a luta pela desestruturação do sistema e o fim de todos os níveis de opressão e injustiças depende da minha, da sua, da nossa raiva do nosso descontentamento e do nosso amor por justiça.

Aprendi que a minha raiva me move e com amor sigo até que todas estejamos livres e libertas.

Obrigada Sandra por mais essa reflexão e obrigada à vida por todas as oportunidades, sigamos!

 

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