Quem cuida da gente?

WhatsApp Image 2020-07-07 at 20.47.31Foto: AFP (retirada do instagram @chooselove). Um refugiado Rohingya abraça o homem que o salvou.

Tem duas semanas que eu quero publicar uma receita pra vocês, mas os acontecimentos do mundo não deixam.

Não consigo pensar em sequer um texto pra compartilhar com a receita, e tenho tanto pra contar. Então meu silêncio nas redes é uma resposta ao meu caos interno

Os dias tem sido difíceis, a gente vai tentando justificar nas luas, nos astros… mas chega um momento que nem a lua e nem os astros  – e suas características – dão respostas as nossas frustrações. A sorte que temos gente querida que dá aquela ajudinha pra a gente continuar nem que seja cambaleando na vida e o mais doido é perceber que as vezes a gente acha que nossos problemas são bem pequenos diante das pessoas que a gente tenta ajudar e fica até com vergonha ou se sentindo sem direito de “sofrer”.

Decidi escrever esse texto para compartilhar com vocês essas angustias e para deixar registrada aqui. Esses dias venho me perguntando: e quem cuida da gente? e quem cuida de quem cuida?

Comecei escrever este texto no começo desse caos e ontem achei esse vídeo que foi o impulso pra eu terminar e publicar hoje. Recomendo que vocês vejam antes de continuar a leitura.

Eu acho que eu cansei de ser aquela que esta sempre pronta pra oferecer alguma coisas as outras, na verdade é um processo de rompimento de padrão mesmo e tem sido um trabalho intenso, uma dos mais intensos. Eu sempre fui e continuo sendo a pessoa que sempre ajuda, sempre está a disposição e a vida tem me retribuído lindamente essa característica, mas de um tempo pra cá eu venho me perguntando e quem cuida de mim? Quem me escuta?

Tem dias que a impotencialidade de resolver problemas mundiais  se transforma em raiva e essa raiva por muitos anos se transformou em culpa por não ter a alma tem elevada e com serenidade transformar esses sentimentos ruins. Lembro que uma vez a Sandra escreveu sobre isso, dizia assim: “minha raiva não vem de uma suposta falta de evolução espiritual ou estratégica. Ela vem do amor, amor pelo povo, tão sofrido. Pelos animais, assassinados aos bilhões todo ano. Amor pela natureza. Amor pela justiça” e assim que continuarei.

E foi assim que transformei esse amor por justiça e por equidade em raiva é ela que me move para acreditar que um mundo melhor é possível, é ela que me move para entender que as mudanças sempre foram realizadas por um pequeno grupo de pessoas e que estar nesse planeta é aprendizado constante.

Mesmo que o cenário – o assassinato de Geroge Floyd, Iyad Hallaq, Ahmed Ereqart, as violações internacionais de direitos humanos contra Palestinos, Uighur minoria chinesa muçulmana, Yemen, Curdos, Rohingya, pessoas em situação de rua, LGBTQI+, Brasil colapsando, etc… – me faça cambalear na vida e achar que não estou fazendo nada, não estou me doando o suficiente, que eu deveria estar ajudando muitooo mais e que o mundo é uma merda, é aí que eu me deparo com trabalhos de pessoas maravilhosas  como o Padre Julio (@padrejulio.lancelloti) Shaun (@shaunking) Angela Davies, Sabrina (@tezeonse) Sandra (@papacapim) Thiago (@thiagoavilabrasil) a Rita (@rita_von_hunty) que são peças essenciais para minha sobrevivência pacifica em este plano, nesta vida.

Foram vídeos como esse aqui e esse aqui  que a gente reconheço as nossas alianças, as dores e que tem gente por aí se sentindo igual a nós. A arte tem me ajudado a seguir, a música, as lives, as conversas, os emails, as trocas de carinho com os clientes da loja que eu trabalho. Pq sim, eu não parei nenhum dia de trabalhar (trabalho numa loja-fazenda de produtos orgânicos aqui em Bristol) o que me ajudou absurdamente neste período tb.

Dizendo isso, seguimos, vezes cambaleando, vezes normal mas sempre firme no propósito, porque o propósito é um só. Firmeza no amor, na justiça, na equidade, na paz e perseverança pra lutar da sua forma, abrindo a escuta, desconstruindo padrões, descontraindo-nos pois só assim a gente vai conseguir chegar a algum lugar. Lembre-se sempre do seu privilégio ( se vc tem algum) e use ele para que o que hoje pra vc um privilegio seja num futuro próximo um direito de todos.

E como o Padre Fabio fala no vídeo lá em cima, encontre um lugar onde vc possa se conectar, coloque uma música boa, pise na terra, tome um suco bem gostoso, se reconecte pq em tempo de pandemia – e todos os outros agravantes sociais, econômicos e políticos – essa é a nossa única saída pra não surtar e no final a gente cuida da gente e um cuida do outro.

 

Obs.: a foto se trata de uma história bem bonita. Um grupo de pescadores locais ajudaram um barco de refugiados Rohingya que estava parada no mar esperando ajuda do governo da Indonesia, que obviamente tinha negado. 100 pessoas entre elas 30 crianças foram salvas. Corram no instagram do ChooseLove e acompanhem o trabalho da galera.

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