A câmera, a paisagem e o desapego

download
foto: internet

 

Decidi escrever esse texto para compartilhar com vocês um sentimento novo que brotou em mim este fim de semana.

Perder coisas pra mim sempre foi muito chato, ficava dias pensando de que forma eu poderia ter feito para não ter perdido aquilo. Isso acontece com tudo, pessoas, coisas, lugares….  Sempre foi algo que me doeu. Perder, é uma palavra que vez outra esqueço que existe, mas vem a vida e me faz lembrar.

Pois bem, este final de semana fui acampar num lugar único em Wales, aqui em UK.

Há quatro anos quando decidi mudar minhas prioridades na vida, decidi também comprar uma câmera pequena para facilitar o transporte nas viagens e pra não andar com tanto medo se me roubassem pois faria parte daquele processo todo. Comprei uma GoPro e com ela viajei todo este tempo, até ontem.

Ontem, sábado, fazendo uma trilha pendurei ela no meu casaco e sai andando continuando a trilha numa conversa profunda sobre veganismo, vida, memórias… com uma pessoa especial, o mesmo que me levou pra esse lugar incrível.

Não vi o momento que ela caiu, quando me dei conta de imediato senti que não ia mais achá-la. Falei pro meu amigo, perdi, não vamos encontrá-la mais. Voltamos todo o todo o caminho pra tentar achar, mas senti que o fim de nossa parceria era aquele.

Fiquei pensando, como se pessoa fosse aquele objeto, em quantos momentos, perrengues, desafios, paisagens, lugares, pessoas e vida tínhamos compartilhado e conhecido. Quantas histórias ela tinha pra contar (as fotos armazenadas nela, se alguém encontrar um dia) e fiquei pensando como isso se repetia na vida, com pessoas, animais, etc.

Fiquei refletindo o quanto meu coração estava leve, parecia que tinha entendido que ela queria ficar ali, eu sei estou humanizando o objeto, mas não se trata do objeto em si, mas sim da raíz da perda que gerava, naquele instante, um outro sentimento diferente da dor. Em mim, não habitava nenhum apego, meu amigo me abraçou e perguntou se eu estava triste, com toda segurança disse: NÃO. Expliquei a ele o meu sentimento em relação aquilo que estava acontecendo – em inglês, parece que ele entendeu – e juntos começamos uma outra grande e profunda conversa sobre apego e dor em meio aquela paisagem que encantavam meus olhos e faziam eu estar muito consciente de tudo o que estava acontecendo e as palavras brotavam não do que eu acreditava que deveria ser, mas do que minha mais pura essência sentia sobre tudo aquilo.

Fiquei feliz que ela tenha ficado ali num lugar tão bonito, e fiquei pensando sobre mim e como eu também gostaria de pousar em um lugar lindo como aquele e como eu estava humanizando aquela situação, mas que na verdade aquilo se tratava de mim perante a minha vida e a todos os meus apegos…. o quanto estava me libertando daquelas dores quando se perde algo, alguém ou sei lá o quê. Fiquei feliz, não por ter perdido ela, na verdade pela primeira vez perder um objeto não me gerou nenhum sentimento, não porque eu não me importasse, mas sim porque perdi, procurei e não achei. O que mais podia fazer? Remuer aquele sentimento só ia me fazer mal, então estava decidindo seguir com o coração leve.

Senti que cada vez mais meu coração também já vai pedindo pouso e que a hora do pouso já está chegando.

Pois bem, este texto não é sobre o simples fato de ter perdido uma câmera, mas sim por ter conseguido transcender a tristeza, o apego e a dor que em outrora seria quase inesquecível.

 

 

 

 

Deixe um comentário