Além do caminho – Compostela português 

 

 

 

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Não lembro exatamente como começou minha paixão e fascínio sobre a peregrinagem até Santiago de Compostela, mas lembro que foi mais ou menos quando eu tinha 18 ou 19 anos.Nunca li Paulo Coelho na vida, antes que alguém me pergunte. Criei um pré-conceito (acho) com o pouco que vi sobre ele.

A ideia de fazer o caminho se intensificou plus (pois já era bem intensa) quando eu vi o filme The Way (quem não viu ainda, assista).

Todo mundo que faz ou quer fazer o caminho vai procurando alguma coisa, seja espiritual, promessa ou apenas por caminhar, sempre há uma segunda intenção em fazê-lo.

Minha vinda a Europa, entre uma das coisas, era peregrinar até Santiago de Compostela saindo da França, Saint Jean Pied de Port, pesquisei tudo. Sabia onde e como fazer e o que levar. Decidi fazer na primavera, parecia a melhor época; não era frio, não tinha muita gente e ainda tinha o a facilidade das coisas.

Comprei minhas passagens em agosto e planejava fazer o caminho em setembro e passar meu aniversário de 30 anos caminhando.

Minha viagem começou por Barcelona, Itália e depois seria França pra começar de lá. Ficaria apenas três dias em Paris, justo pra conhecer a cidade e partir em auto-stop até SJPP. Pois chegando em Paris começaram a acontecer milhões de coisas, trabalhei, fiz curso no Institu de Culinaire de Paris, conheci gente incrível e conheci um companheiro ótimo para caminharmos juntos. Pois, o que eram pra ser três dias viraram quase dois meses. E o caminho? Ah, eu sabia que o caminho iria me chamar e que tudo o que estava vivendo já fazia parte dele.

Vim pra Portugal pra trabalhar um pouco mais e fazer um pouco mais de dinheiro já que já era hora e estava acabando.

Vim pra Portugal em novembro e os workshops aqui, super funcionaram então, pedi mais tempo de visto (não é tão fácil assim, já que eu não tenho nenhum vínculo empregatício, nem renda pra mostrar como me manter aqui e nem poderia estar trabalhando) me deram. Perfeito, dava pra conheçer e fazer mais coisas por aqui.

Decidi então fazer o caminho Português, justo pela questão tempo já que eu ainda queria trabalhar um pouco mais antes de voltar pro Brasil (se voltar), mas é inverno e tinha um pouco de receio por conta do frio e das questões de final de ano, but…decidi que faria mesmo assim.

Sempre quis fazer o caminho sozinha, mas parecia que ele não queri deixar que o fizesse só, sempre apareci alguém pra me acompanhar.

Não pesquisei quase nada sobre o caminho, comprei um guia -ruim- dois dias antes e dia 22 de dezembro começaríamos o caminho português central. Não sabia o que me esperava naqueles dez, onze dias de caminho, mas estava com o coração aberto e muitas expectativas. Ups… expectativas , se puder nunca as crie em relação a nada e se criar aceite se não for aquilo que você pensou que fosse.

Pois bem… Um dia antes fomos comprar nossas credenciais de peregrinos na Igreja da Sé, aqui no Porto.

É essencial que você a tenha para que possa ficar nos albergues destinados aos peregrinos que são bem mais em conta que os outros para turista.

No primeiro dia que vi a primeira flecha amarela indicando o caminho, meu coração transbordou de alegria que até se transformou em água: estava fazendo o meu primeiro caminho da vida, depois de 10/11 anos de espera: OHHH MY GOD!!!!!!!!!

O dia estava lindo, apesar de caminharmos em meio a estrada, carros, poluição; tudo se tornava mágico pois meu coração estava em festa.

O segundo dia também, grande parte do caminho foi feito entre carros, barulho e muita poluição aquilo já passou a não ser tão mágico assim, afinal tudo que eu menos queria era estar nesse caos exterior, mas ainda mantive a serenidade, era só o segundo dia. Neste dia andamos 28km, mortos, com fome, com a cabeça explodindo, eu com minha primeira e única bolha e meu primeiro dia de mestruação, tava a ponto de chorar. Por fim, chegamos a Barcelos – parecia não chegar nunca- já era 20h e fomos direto encontrar um dos albergues para peregrinos: Amigos da Montanha (MARAVILHOSO) foi aí onde encontrei o livro Alén do Turismo e era tudo o que eu pensava sobre essa peregrinação. Ele mostra a diferença entre ser turista e ser peregrino, conta como surge o turismo e qual é o nosso papel nessa abordagem. Troquei por um livro que já tinha terminado de ler e peguei ele para andar comigo.

Na primeira folha dizia isto:

” o turista busca cultura porque, no nosso mundo, a cultura foi engolida pelo espetáculo, a cultura foi posta abaixo e substituída pelo centro comercial e as telas de televisão, porque nossa educação não é outra coisa que a preparação para uma vida de trabalho e consumo, porque nós mesmo deixamos de criar.

Ainda que os turistas pareçam estar fisicamente presentes na natureza ou na cultura, de fato, poderíamos dizer que são fantasmas que espreitam nas ruínas, carentes de toda presença corporal. Colecionam imagens mais que experiência.”

Uau, não tinha nem mais o que dizer, concordava mesmo em gênero, número e grau o que ele escrevia ali, e era exatamente o que eu vinha percebendo ao longo das minhas viagens. O livro é longo e tem muitas reflexões esta versão está em gallego, mas a versão original se chama Overcoming tourism. Voyage intentionnel (no final do post mais infos).

Massagem nos pés, banho tomado, quarto quentinho pronta pra dormir. Nesta época do ano, são poucos os peregrinos que fazem o caminho, então éramos apenas nós no caminho e nos albergues até chegar a Ponte de Lima, ainda em Portugal.

O caminho no geral não é difícil, sempre há setas amarelas por toda parte, esta época tinha muita laranja, tangerina, caqui e kiwi por todo o caminho. Os albergues de peregrinos em Portugal são 5€ na Espanha 6€. Havia um detalhe que eu não pensei, nesta época de final de ano alguns poderiam estar fechados.

Mais abaixo explico detalhado dia por dia, aqui é uma visão geral.

Faziamos uma refeição por dia, ser vegana não me causou nenhum problema, pelo contrário só me traz felicidade e muita reflexão.

Falando em reflexão, há um ponto muito sútil que observei durante todo o caminho: os cachorros nas casas eram apenas para alarme da família. Como assim? Assim, a família só mantinha os animais pra que servissem de aviso se alguém se aproximava. Mal tratados, no frio, acorrentados e com uma casinha super pequena. Pensei em tirar foto e denunciar, depois tentei falar com uma das “donas” de um deles, mas pouco me deu ouvido. Era mesmo uma relação de exploração e maus tratos. Isso me fez pensar e pedir com todo clamor libertação a todos nós, muitas vezes aceitar, aceitar em silêncio, apenas com a mente, mas o coração em pedaços e se sentindo a pessoa mais impotente do mundo. Sempre que tinha a possibilidade fazia carinho e olhava no fundo do olho de cada um e pedia perdão. Pedia perdão pelas pessoas que estavam ali fazendo o caminho e depois iam direto comer um animal, pela religiosidade que em tantos momentos nos cegam, pela terra, por tudo.

Iniciei o caminho sem o bastão, depois Nico me emprestou um. Mas, não recomendo fazer sem. Sempre quis ter um bastão de madeira e a concha (a vieira). Descobri que o bastão de madeira era pesado e todo peso neste momento fazia total diferença. E a concha, ah! a concha era um animal, antes de ser só aquela concha. Refleti que, com a quantidade de peregrinos que faziam o caminho e que compravam a concha deveria existir um enorme comercio em cima disso, bastou. Não precisei ir atrás para saber se existia exploração e extermínio nessa prática já via em todos os restaurante que passava pelo caminho, me foi suficiente.

Caminho seguia, dias seguiam… Em muitos momentos as casas estavam fechadas. Aconteceu de passarmos e a pessoa entrar em casa pra não falar com a gente, mas aconteceu também de ganharmos uma sacola de laranjas e tangerinas,de compartilhamos uns minutinhos com D. Maria e ela mostrar suas abóboras enormes, do seu próprio jardim. Aconteceu muitos momentos lindos, encontrar com José que estava fazendo o caminho em bicicleta por ter feito uma promessa para curar sua esposa que tinha leucemia, foi bem emocionante pra mim. Com Martha, com o grupo de Italianos que com muito amor nos abracávamos cada vez que nos víamos pelos bosques e cidades que cruzavam o caminho. Com o Jonatan que me relatou que sentiu pela primeira vez a presença de Deus naquilo tudo. Me fez lembrar dos tantos momentos que senti aquilo tudo.

Me fez ver que eu tinha uma vida muito privilegiada de poder seguir o meu coração, me fez agradecer a cada manhã que eu acordava aquele dia, aquela vida, esta vida. Sentir a presença da natureza, fazer parte dela, ser a mudança.

Todos os dias eram momentos para se sentir, tive muitooooos insights sobre meus comportamentos, sobre mim, sobre estar ali, sobre meu papel. Terminei meio atordoada, ainda absorvendo todo o caminho, as mudanças.

Mas bem, ainda faltavam dias até chegar lá, até terminar e tinha receio em terminar – odeio terminar coisas. 😛

Chegar a Santiago foi ¨broxante¨. Entramos pela parte completamente cheia de prédios e nos perdemos pois as setas pararam de existir em um momento. Assim que vimos a cúpula da igreja meu coração acelerou, chegamos!

Neste momento era eu, um francês e um canadense. Fomos em direção a igreja e tudo parecia mágico até tentarmos entrar na igreja com a mochila e não deixarem. Não é permitido entrar com as mochilas, por segurança. Faltava 10 minutos para começar a missa do peregrino, era dia 31 e nos disseram que só haveria aquela missa naquele dia. Queria assistir a missa naquele dia, então, correeeeeeee vamos até ao centro de APOIO ao peregrino. Chegamos lá, tem que pagar 2€ pra deixar a mochila; disse o moço. Ok, paga e vamos correndo. Não, venham por aqui para deixar a mochila; disse de novo o moço. Ok, a essa altura eu já tava p da vida, cansada, com fome e mortaaaa de sono.

Corre pra missa, faltavam 3minutos, exatamente 3 e tínhamos uma ladeira enorme pra subir CORRRENDOOOO. Chegamos a missa tinha começado, fazia segundos, ok nada grave.

Colocando os órgãos pra fora sentamos os três, quietinhos em silêncio e mortooooos de calor. Olhei pra cima e a igreja era linda, mas a energia era muito estranha. Não podíamos circular – claro certíssimos – na hora da missa. Mesmo assim as pessoas vinham e tiravam fotos, aí vinha o segurança e reclamava.

Não estava conseguindo estar ali. Nos levantamos e cada um foi seguir sozinho e eu fui fazer os rituais seguintes:

A fachada da igreja está em restauraração, pelo que li, há mil anos. Não consegui colocar minha mão nos pés da imagem de Davi. Nunca vi a imagem do Santo Croques, para tocar na cabeça dele. Ok, mas mesmo assim agradeci por estar ali e por ter tido aquele caminho que tanto me estava ensinando.

Segui para o altar-mor e dei um abraço na imagem de Santiago e como um amigo lhe contei um pouco (pouquinho mesmo, pois tinha 300 milhões de pessoas atrás de mim) como tinha sido o caminho. Desci a cripta, onde está a tumba de Santiago e cai no choro. Tinha terminado um dos grandes sonhos da minha vida e mesmo sendo absurdamente turístico eu tinha conseguido me conectar. A força de continuar lutando pela libertação só tinha aumentado, o meu propósito de existência é exatamente esse que eu tou vivendo. Agradeci por a vida não me manter “as cegas” pra terra, pro próximo, pros animais. E, pedi com toda fé e amor que um dia todos possamos acordar e compreender nosso papel aqui.

Nos encontramos no final de tudo para seguir e recolher nossas mochilas no apoio ao peregrino. Lá mostramos nossas credenciais para receber a Compostela (certificado em latim da conclusão da peregrinação), isso não é pago, ufa!!!

Compostela em mãos seguimos para buscar nosso albergue, essa altura já éramos melhores amigos e decidimos ficar no hostel juntos e passar a virada juntos também.

Hostel encontrado foi, deixamos as coisas e cada um saiu pra fazer o que queria, fazia sol e o dia estava lindo. Eu, não consegui encontrar nada pra comer além de uma lata de feijão, comi feliz. Sentei no sol, sozinha pra pensar em tudo aquilo, no livro que eu tinha encontrado (aquele que citei lá em cima), no papel que eu tinha exercido ali, na vida em tudo e me senti muito grata.

Já era quase noite e dormi, os meninos me acordaram faltando 10 minutos para meia noite: Vamos a praça vai ter show! Levantei, FRIOOOO, e saímos. 3,2, 1 já era 2017 e 2016 tinha entrado pra minha história como um dos melhores anos desta vida.

Dia 1 clareou e eu dormia. Saímos para tentar comer algo e, não havia nada abertooo ou seja dia 1 não tinha nada pra eu comer. As coisas que tinham abertas eram caras e não tinha opções veganas.

Passei dia 1 em jejum, tentando achar um lugar pra comer, tinha bastante fome, mas não aconteceu. Zero problema. Dia 2 já voltaria pro Porto.

Acordamos cedo, o trem era às 7h.

Agora, conto um pouco do que foi dia-a-dia do caminho, os albergues e o que conheci em cada cidade. 

1- Porto – Vairão 28km
Saímos da cidade do Porto. O Nico resolveu fazer o caminho comigo. Partimos por volta das 8h30. Grande parte do caminho é feito pela cidade, avenidas e auto-estradas.
Caminhamos por todo o dia até chegar em Vairão. Ainda no Porto, quando vi a primeira seta que indicava o caminho, meu coração bateu euforicamente e entrei em estado de extrema felicidade, estava começando o que eu sempre quis.
Seguimos caminho e algumas pessoas nos desejavam ¨buen camino¨ e eu me empolgava cada vez mais. Nos perdemos até sair da cidade pois pensávamos que estávamos seguindo caminho da costa. Pra quem não sabe, existem três caminhos portuguêses, eu só soube no dia.
Foi um dia tranquilo, caminhamos num bom ritmo e chegamos por volta das 17h30 em Vairão. Caminhamos mais ou menos uns 28 km. Meus pés tinham bolhas e eu estava esgotada, mas bem feliz. Dormimos no monastério, com mais um peregrino. Um lugar super frio, mas com aquecedor e água quente. Formos recebidos por seu José Maria, super simpático. Ele e sua esposa cuidam do albergue do Monastério.
Conhecemos o José, também peregrino que peregrina já há 3 anos pela vida e pelo caminho.
Gastamos ao total por duas pessoas: 10€ albergue + 7€ de coisas que compramos antes de sair.
Hostel: Albergue de Peregrinos do Mosteiro de Vairão – Largo do Mosteiro mosteirodevairao@gmail.com
Se não tiver ninguém, seu José mora ao lado.
2- Vairão – Barcelos 28km
A jornada começou tarde. Nos levantamos às 7h e algo.
O dia hoje foi super pesado, caminhamos grande parte pelos carros e foi super cansativo. Estressante e pra completar meu primeiro dia menstruada. Dores de cá e aculá. Passamos por uma linda ponte medieval em São Pedro de Rates. E seguimos caminho. Seguimos em direção à Barcelos, mas parecia não chegar nunca, nunca. Fizemos várias paradas é bem verdade, mas ô poxa…
Chegamos à Barcelo e preferimos, preferimos não, morrendo resolvemos dormir no Amigos da Montanha, que é logo na entrada da cidade. Um albergue lindo e todo novo por 5€ . Água quente, aquecedor, internet e cozinha.
Gastamos por dois: 10€ do albergue. 3,20€ pela comida, no mercado do lado do albergue.
Hostel: Albergue Amigos da Montanha – Rua Custódio José Gomes Vilas Boas, 57. Barcelinhos.
3- Barcelos – Ponte de Lima 37km
Hoje o dia começou super cedo. Ulala… Saímos às 6h50 muito frio e neblina, muita. Eu ando sem o bastão, pois esqueci o meu em uma carona que pegamos na França. Nico está dividindo o dele comigo. Hoje foi o dia da humildade. Ele pediu de volta. Conseguimos um de madeira pra mim, mas super pesado, não consegui andar com ele por muito tempo. Depois ele me ofereceu o dele de volta, mas eu sabia que ele queria andar com os dois, então relutei para aceitar, mas acabei aceitando, pois fazia MUITA falta. Precisávamos ficar em silêncio então, andamos em silêncio grande parte do caminho. Chorei ao ver como os animais são tratados, nada diferente do Brasil, mas é doloroso. As pessoas são muito estranhas de fato, há uma desconexão tão profunda.
A jornada foi dura hoje, caminhamos 38km. Mortos. Lindo dia. Paisagens incríveis e uma jornada interior mais incrível ainda.
Com a certeza da abundância, comemos laranja, tangerina e kiwi todo o caminho. É apenas a  vida me mostrando que eu podia continuar confiando.
Às 18h chegamos à Ponte de Lima, viemos voando para o albergue, pois hoje é noite de Natal e queríamos garantir um passeio à vila antes de dormir. Mas, cá estamos, sem poder sair do albergue pois não tem quem abra a porta pra gente e não é permitido sair. Comemos junto com mais quatro italianos, duas mulheres e dois senhores.
Compartilhamos nossa ceia de natal que foi farofa com feijão preto e repolho. A deles, sopa, pasta, salada e vinho.
Ponte de Lima foi a cidade que mais gostei.
Hoje gastamos 6€ mais 10€ do albergue.
Meu maravilhoso presente de Natal, estar aqui.
Hostel: Albergue de Peregrinos de Ponte de Lima – além da ponte
15h às 22h (temporada alta) 15h às 21h (temporada baixa). Mas, na noite de Natal era até às 19h.
4- Ponte de Lima – Rubiães 19km
Hoje acordamos um pouco mais tarde, tínhamos só 18km para percorrer.
Partimos do albergue as 8h30 fizemos várias pausas. Subimos muito, muito, mas a vista lá de cima foi mesmo incrível. Compartilhamos um pedaço do caminho com o grupo italiano, mas grande parte foi apenas o bastão e o barulho das pés na folha. Em silêncio muitas vezes outras conversando. Mas, ambos sabíamos que precisamos daqueie silêncio, profundo e maravilhoso.
Chegamos a Rubiães às 15h30, mas hoje é dia 25 e, domingo está tudo fechado. No albergue de peregrinos não havia ninguém, mas estava aberto e podíamos entrar e ficar lá, fazer a doação e seguir no dia seguinte.
Estávamos com fome, mas era domingo e Natal não tinha nada aberto. Tentamos pedir numa casa vizinha, mas o senhor nos indicou onde era o mercado que ele achava estar aberto. Depois, fomos perguntar no albergue Ninho se eles sabiam ou como podíamos fazer pra comer. Um casal super fofo e jovem nos deram arroz, cenoura, azeite e feijão. Perfeito a melhor ceia de Natal, rsrs. O albergue é enorme e bem bonito, mas faz muito frio e os aquecedores do quarto não funcionam, mas há cobertores. Estamos sozinhos literalmente no albergue e na vila rsrs. Há uma cozinha enorme.
Gastos de hoje: 6€ de donativo pro albergue.
Hostel: Albergue de Peregrinos de São Pedro de Rubiães – lugar da costa
11h às 20h (temporada alta)
11h às 17h (temporada baixa)
5 – Rubiães – Tui 20km
Hoje o dia foi tranquilo. Acordamos cedo, nem tão cedo assim. Mas, saímos umas 8h. Caminhamos por 18km até Valença. A caminhada foi um pouco longa, mas tranquila. Paisagens bonitas e vários rios. Chegamos até Valença por meio da floresta ainda, ao chegar na cidade as setas se fazem um pouco confusas tivemos que perguntar todo o tempo. Há uma grande e e linda muralha para se ver. Existe também uma pequena e charmosa cidade dentro da muralha. Estivemos ali só de passagem mesmo pois o albergue municipal estava fechado. Mas, vale ficar ali uma noite.
Fomos logo para Tui.
Lindaaaaaa cidade na Espanha. Cruzamos a ponte que tem uma vista incrível após caminhar um pouco lá estávamos nós atrás da catedral no albergue municipal. Aqui os albergues custam 6€, todos os municipais. Neste não havia cozinha, compramos qualquer coisa no mercado jantamos vimos a cidade e dormimos. A catedral é lindo, mas paga pra visitar, vi só de fora. A cidade é super fofa.
Gastos: 12€ albergue + 8€ de alimentação.
Hostel: Albergue de Peregrinos Jacobeo – atrás da catedral
13h às 21h
6- Tui – O Poriño 20 km
Hoje o dia começou estranho, logo na saída eu fui grossa com o Nico, dizendo que a partir dali eu irei caminhar conforme eu quisesse. Caminhamos um par de horas juntos, mas logo em seguida ele começou a andar sozinho e nos perdemos. Depois não nos vimos mais. Cheguei a O Poriño às 12h, como ainda era cedo, pensei que ele pudesse ter seguido e segui caminho chegando em Mos, já fazia muito tempo e não nos tínhamos visto ainda, então perguntei a um rapaz que fazia o caminho inverso e ele disse que não o viu, deduzi então que ele ainda estava em Porriño.
Chorei, irritada, fui voltando caminho até encontrar dois peregrinos portugueses que dormiram com a gente no albergue em Tui, eles me falaram que ele estava de fato em Porriño. Voltei. Voltei tudo. Em Mos, o albergue municipal e tudo estava fechado.
Chegando ao albergue às 14h40 ele estava lá me esperando. Já que eu tinha ficado atrás, provavelmente eu ainda não tinha passado por alí.
O que aconteceu foi que, em um momento no meio do bosque há vários caminhos e eu segui um e ele outro. Eu entrei por um lado da cidade e ele por outro. Ele encontrou todos os peregrinos e eu não tinha encontrado ninguém, achava estranho…but…rsrs
Decidimos dormir em Porriño eu estava super cansada. A cidade é super bonitinha e tem uma loja de produtos orgânicos e um café com opções veganas. Fizemos umas compras na lojinha abastecendo-nos com oleaginosas e tahine. No albergue tem cozinha, mas não tem nenhum utensílio.
Dia de terça tem feira local na entrada da cidade.
Gasto de hoje: 15,40€ loja + 4€ café + 12€ albergue.
Hostel: Albergue de Peregrinos de Porriño – Av de Buenos Aires. Fica fora das setas
13h às 22h (temporada alta)
15h às 22h (temporada baixa)
7- O Porriño – Pontevedra 38km
Partimos de O Porriño logo cedo. Chegamos ao nosso destino, Redondela há 18km logo em seguida às 12h resolvemos seguir caminho até o próximo que seria Pontevedra. Não gostamos muito de Redondela. Comemos sentados em um parque o que compramos no dia anterior e seguimos.
Ao total fizemos 38km o que nos saiu super duro e irritante. Chegamos em Pontevedra, já era quase noite, cansados e com fome. O albergue municipal estava fechado. Andamos atrás de outras e perguntamos as pessoas, o que não foram nem um pouco gentil em nos ajudar. Os dois albergues de 6€ estavam fechados. Seguimos andando um pouco mais, já sem paciência pra procurar mais, até chegar em um hotel. Fomos em outros dois mais e conseguimos um que nos cobravam 20€ por pessoa. Era o melhor que tínhamos encontrado e no final era um bom hotel. Passamos 1h cada um na banheira na água quente, tentando voltar a tranquilidade. Descemos pra comprar algo o que comer. E decidimos que no dia seguinte ficaríamos até 12h a hora que tínhamos que deixar o hotel.
Gastos de hoje: 40€ hotel +7€ mercado
8- Pontevedra – Calda de Reyes 23km
Hoje começamos a caminhar quase meio dia. Acordamos, cada um resolveu suas coisas na internet e saímos em direção a Calda de Reyes.
O caminho foi leve, mas as pessoas um tanto fechadas, sem muita disposição para boas conversas. Nem para muita ajuda.
Continuamos até Briallos, meus pés já não aguentavam mais eu era só o pó. Até então, não tínhamos comido nada. Parecia que descansar tanto tinha me feito mal rsrs.
O albergue de Briallos estava fechado e seguimos mais 6km ate Caldas de Reyes.
Chegamos às 18h no albergue. E encontramos muita gente que já havíamos encontrado pelo caminho. AMEI a cidade, conseguimos compartilhar com uma senhora que nos contou os benefícios das águas termais. Se não tivesse tão frio tinha tomado um banho naquelas piscinas, but…fazia muito frio então coloquei só o pé.
No albergue encontramos seu José (o moço da promessa), encontramos a Marta, os espanhóis e conheci muito gente. A essa altura o albergue já estava bem cheio e troquei com muitas pessoas. Cozinhamos, tinha aquecedor e água quente.
Gastos de hoje: 12€ +  7€
Hostel: La Posada de Doña Urraca – Calle Campo de La Torre – depois da ponte.
13h21h (temporada baixa)
9- Caldas de Reyes – Teo
Hoje começamos as 7h30. Hoje particularmente fazia bastante frio. A paisagem estava congelada, tudo tinha gelo e um belo ar de inverno. E pra mim tudo era fantástico. Caminhamos em profundo silêncio até chegar em Padrón, 25km. Sentamos, conversamos, comemos e decidimos seguir mais uns 10km até Teo. Ao chegar a Padrón encontramos um casal de amigos gallegos super fofos, caminhamos todo o tempo juntos até chegar a Teo. Conversamos bastante, sobre a experiência no caminho, sobre veganismo, colhemos laranjas e seguimos.
Caminhar em conjunto me fez perceber minha inflexibilidade em muitos momentos.
Me fez refletir profundamente sobre mim e sobre meu comportamento com quem convive comigo. Parece que conviver em grupo, pra mim, é super difícil. Ao perceber isso, me senti muito mais plena e compreendi uma grande coisa que me incomodava. Encontramos com todo mundo de novo.
Chegamos no albergue municipal e já era quase noite. Compramos algo pra cozinhar ainda em Padrón, pois em Teo não há nada por perto.
Lá já tinha alguns outros peregrinos e na sequência chegou o grupo de espanhóis e o brasileiro. Conversamos um pouco mais e eu logo deitei pra dormir.
Gastos de hoje: 12€ albergue + 7€ mercado.
Hostel: Albergue de Teo  – ainda na estrada
10 – Teo – Santiago Compostela 13km
O dia começou super cedo, pois eu queria assistir a missa de 12h em Compostela. Alex veio com a gente e caminhamos os três. Neste dia, falamos pelos cotovelos. Alex nos contava de sua vida no Canadá, Nico da dele na França e eu da minha no mundo.
Alex trabalha com a terra e faz Wwoof em sua fazenda. ❤
Chegamos a Santiago às 11h20. Corremos para a missa, mas não podiamos entrar com as mochilas fomos a Oficina de Peregrinos que fica na Calle del Vilar.
O centro histórico é super fofinho. Muita coisa estava fechada por ser dia 31 de dezembro. Na virada havia uma festa na plaza del obradoiro, a principal. Depois da missa e de todo o ritual seguimos pro hostel, que esqueci o nome. Mas, é um bar e um hostel são bem conhecidos na cidade. A moça nos cobrou 18€ e no dia seguinte podíamos sair a hora que nos fosse melhor.
Encontramos todo mundo bêbado na praça a noite e eu completamente sóbria e com sono rsrs.
Certamente voltarei a fazer o caminho, pois como diz a música o caminhante só faz o caminho ao caminhar. Cada pessoa tem uma experiência e pra cada um toca de uma forma diferente.
Certamente irei fazer, algum dia, o caminho francês e seguir até Finisterre.
De toda esta longa caminhada que tenho feito nestes últimos quatro anos o que me resta dizer é: confia, se as coisas são feitas com amor e se é o teu propósito, não tem como não dar certo. Não tem como não ser abundante e não tem como novas portas e ferramentas começarem a existir.
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Albergue de Rubiães

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Tuí – Espanha

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Albergue de Ponte de Lima

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Albergue de Vairão

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Abundância da natureza
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D. Maria e sua grande abobora

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Parada pro almoço e vitamina D

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Loja de produtos Bio e Vegans – Chicoria em O Porriño

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As plantas amanheceram congeladas

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Santiago de Compostela – Catedral
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Chegamos

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O livro, a Compostella e o caderninho mais amor ❤

 

1 comentário Adicione o seu

  1. izabella melo disse:

    Adorei o relato! Um dia farei! =)

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